Apresentação
O espectro da COVID19 ronda os sonhos e sonos dos brasileiros..... É com esta sensação que recebemos em 2020 a notícia do primeiro caso do coronavírus, aqui no Brasil. Algo que parecia não chegar em terras tropicais nos pegou de assalto.
A não dimensão da doença e de sua chegada nos levou a vivenciar mudanças no campo social, político, econômico e educacional nunca antes experimentadas. Novas linguagens foram apropriadas ao cotidiano: distanciamento social, lockdown, achatamento da curva, média de infectados e mortos e ensino remoto. Ah, sem falar numa indumentária que passou por todas as estações da moda: o uso da máscara. Convivemos com ela de inverno a verão e parece que esta tendência vai perdurar por mais um pouco.
No que se refere ao ensino remoto, este, nos pegou de surpresa fazendo com que o cenário educacional no país fosse totalmente modificado. O uso da tecnologia mediando o ensino, a utilização de ferramentas gráficas, design, a criação de cenários próprios nos espaços domésticos, transformou aquele velho cantinho repleto de estantes e livros num espaço para as chamadas “lives do saber”, saímos da condição de professor Datashow para professor bloguerinho. E assim, fomos nos adaptando ao ritmo das conexões via internet. Não podemos deixar de perceber que tais mudanças nos revelou “Brasis” bem distintos: aquele que possui conexão com o mundo, usufruindo de bens e serviços, e um outro, desprovido de assistência nas diversas esferas, não apenas no campo do saber. A desigualdade social ficou à mostra, definindo o que um ex-BBB cunhou e virou meme: “O Brasil tá lascado”.
As ações negacionistas do presidente Bolsonaro e de sua equipe frente à pandemia nos levou ao segundo lugar, no mundo, de mortos. Hoje ultrapassamos os 500 mil brasileiros que pagaram com a própria vida o descaso governamental. O direcionamento político pela economia em detrimento das políticas sociais, colocando o social como assunto de segunda ordem vem favorecer para que cheguemos ao mapa da fome mais uma vez. O desemprego, o subemprego, a precarização com que os trabalhadores passaram a lidar com a pandemia, travestida de empreendedorismo vem sublimar o fosso social em que estamos inseridos.
Diante desta realidade, como fica o cenário educacional? Que educação será parametrada pós-pandemia? O que será a educação no cenário do “novo normal”? Tantos questionamentos nos perseguem e, claro, dentro de uma perspectiva crítica não poderíamos ficar inertes.
Chegamos a 2021 e, como se num toque de mágica, aquela resistência que ficou contida com o isolamento social, se fortalece e procuramos, primeiro, inspirado num velhinho sábio que este ano completaria 100 anos, caso estivesse conosco, retroalimentar capacidades latentes: de sonhar, de se indignar e acreditar na belezura da vida e das pessoas. Num ano que celebramos o centenário de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, negado pelo governo atual, precisamos para além de celebração, pensarmos alternativas de enfrentarmos a forma como a educação vem sendo tratada.
Foi com esse espírito que partimos na identificação que neste cenário político não dá para fazer nada isoladamente e, assim, a junção de instituições de ensino superior vem no sentido de criarmos um Coletivo de Educação – COLEDUC e, com ele, darmos os primeiros passos na estruturação do I Seminário de Educação e Contemporaneidade (SENEDUC), cujo tema central será: 100 anos de Paulo Freire, sempre presente.
A primeira edição será realizada no período de 28 a 30 de setembro de 2021, de forma remota, com três palestras, quatro minicursos e apresentações de trabalhos em formatos de pôster, comunicação oral e relatos de experiências, distribuídos em sete grupos temáticos de trabalho, são eles: GT1- A escola, a agroecologia e a produção da vida no campo e na cidade: relação entre as escolas e os movimentos sociais; GT 2 - Currículos e Práticas Pedagógicas na Educação das Infâncias; GT3- Alfabetização e Letramentos nas escolas; GT4- Educação popular, educação de jovens e adultos e diversidade; GT5- Educação, povos étnicos tradicionais e originários, lutas, resistências e desafios a vida; GT6 - Educação: tecnologias (mediação tecnológica), avaliação e linguagens; GT7- Educação e relações de exploração/opressão de gênero, raça/etnia, geração, sexualidades.
Aos poucos o coletivo toma corpo e vai juntando IES distintas (UPE, UFPB, UFERSA), mas sobretudo, saberes, vivências, compromissos e experiências, porém, orientadas por um único fio condutor: o acreditar na educação transformadora, seja no campo ou na cidade. É com este espírito, que convidamos a todos vocês a se juntarem a nós e construirmos este sonho, dando um passo na sua materialização com o I SENEDUC. Outros virão e temos a certeza que muitos professores e professoras comporão este coletivo e muitas coisas produziremos no campo da educação, tomando-a como estratégia de transformação social.
Tarde de São João de 2021.
Comissão Organizadora